A estudante Yasmin da Rosa Pereira, do 6º ano, lembra como se sentiu quando viu a escola após a ação violenta da água. “Muita dor no coração porque nunca tivemos uma enchente assim na nossa escola e perdemos muitos materiais, eu pensava que a gente não ia mais conseguir recuperar a escola. Vi fotos da escola bem suja de barro, muitas coisas faltando, algumas mesas tinham ido com a água”. 

Passados quase dois meses, a ação mudou. “Agora nossa escola está nova, renovada. Fiquei feliz porque minha colega ia conseguir recuperar as matérias. Voltamos felizes porque aqui é uma escola boa de estudar”, destaca a estudante. 

No período em que a escola esteve fechada, os alunos não ficaram afastados da aprendizagem. Desde o dia 27 de maio, eles frequentavam, no turno da tarde, as aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Antônio Leite Costa, na localidade de Estação Experimental, que foi emprestada ao município para atendimento neste momento de emergência. 

O investimento na reforma foi de cerca de R$ 278 mil, incluindo pintura, material elétrico, mobiliário, equipamentos e eletrodomésticos. O trabalho também teve a ajuda de muitos voluntários. Equipes de Santa Rosa, prefeitura que adotou Taquari após a enchente, trabalharam na recuperação da rede elétrica, durante uma semana; Instituto Mix atuou na limpeza dos aparelhos de ar condicionado, e Valter e equipe da Dexco, além de doações arrecadas por pessoas como Tetê Kerbes, de Arroio do Meio, e Guilherme Vilanova, taquariense que reside em Pato Branco (PR). A Cooperativa Sicredi e o Bradesco estão atuando na parte do ajardinamento, com a doação de flores e a Rodoquímica, os produtos para a higienização dos uniformes, entre outros.

“Hoje estamos nesta escola linda, toda renovada”

A diretora Josiane Pereira destaca o trabalho em conjunto com a comunidade. “Enfrentamos uma calamidade jamais imaginada. Além da nossa escola, professores, funcionários e alunos tiveram suas casas atingidas e os que não tiveram, conhecem alguém que teve. Todos nós sentimos essa dor e desalento de alguma forma. E é em momentos como este que vemos o quanto precisamos uns dos outros e que unidos somos mais fortes. Hoje estamos nesta escola linda, toda renovada, mas para chegarmos até aqui contamos com a ajuda de várias pessoas. 

A coordenadora de Educação, Maristel da Silveira Charão, ressaltou a agilidade em que o trabalho de reforma foi realizado. “Nosso sentimento hoje é de gratidão por, em tão pouco tempo, estarmos reinaugurando a escola. Uma escola é a vida de uma comunidade. Esse momento é fruto de um trabalho conjunto de todas as secretarias, da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), amigos, como os de Santa Rosa, que nos inspiraram pelo exemplo de amor e generosidade, os quais nunca esqueceremos”, afirmou.

Para o prefeito André Brito, o recomeço em uma escola tem um grande significado na comunidade. “Nós vivemos uma grande tragédia e ainda estamos assustados, com medo do que vem ali na frente. Vejo um primeiro passo acontecendo. Temos casas para reconstruir, tem pessoas que perderam tudo, mas nós temos que, pouco a pouco, ir reconstruindo. Essa escola, assim como foi a EMEI Paulo Freire, são os primeiros passos da nossa reconstrução, espaços onde as crianças podem se preparar para o futuro”, destacou o prefeito André Brito. 

Para marcar esse recomeço, os alunos estavam vestidos a caráter: alguns com roupa tradicional gaúcha, pilcha e vestido de prenda; outros com camisetas da dupla Gre-Nal ou de uniforme da rede municipal e cantaram duas canções: o Hino Rio-grandense e Alegria, interpretada por Ivete Sangalo. O pároco da Paróquia São José de Taquari e Tabaí, frei Rinaldo Eberle, fez uma benção.     

Salas novas e o tempo integral

Além de retornar para a escola, os alunos ainda encontraram o espaço ampliado. São 187,10m² onde estão três salas de aula, secretaria, sala da direção e três banheiros adaptados. O investimento de R$ 520.842,00 foi realizado com recursos próprios do município.   

Na próxima semana já terá início na escola o tempo integral para os alunos. Ou seja, no contraturno da aula, eles terão atividades e receberão as refeições na escola.  

Foram colocadas sete réguas pela ruas Jacob Arnt, Getúlio Vargas e trecho final da Ver. Praia, próximo à Praça Dom Pedro, apontando as marcas até 20m. A estação de medição automática, que colapsou em maio, também está sendo reinstalada. 

Na enchente do início de maio, o nível do rio, conforme medição topográfica solicitada pelo Setor Municipal de Planejamento, foi de 17,26m, chegando a parte da Rua Vereador Praia (trecho final). 

Taquari já contava com réguas de acompanhamento do nível do rio, que agora foram ampliadas tanto na metragem, quanto na quantidade de medidores disponibilizados no bairro Praia.

A força-tarefa disponibilizada pelo estado paulista é dividida em equipes, que se revezam a cada 10 dias. São 23 homens que atuam em sete viaturas, quatro embarcações, drones, binômio (guia e o cão farejador) e o helicóptero Águia, da Polícia Militar de São Paulo, que está acompanhando a equipe nos últimos dias. 

Em Taquari, conforme o sub-comandante da Força-Tarefa 5, Capitão Clóvis Augusto Michelin, há uma área de 1,89 km² e aproximadamente 3,00m de altura de empilhamento de material na localidade de Fazenda Lengler, com troncos de árvores, restos de mobílias, de casas e animais mortos. “O rio vem descendo e onde encontra uma mata mais fechada e alta serve de filtro. Temos neste ponto uma mata de eucalipto onde parou muita coisa, onde tem surgido muitos pontos de interesse, como chamamos, que os cães vão lá e sinalizam. A tendência é que haja alguns cadáveres lá para recuperar”, explica. Para a realização do trabalho nesta área será necessária a utilização de escavadeiras para a retirada dos entulhos, cujas horas de trabalho serão custeadas pelo município. 

No Vale do Taquari, há 22 pessoas desaparecidas. “Esse trabalho é a esperança de 22 famílias que ainda não encontraram seus entes queridos”, afirma o prefeito de Taquari, André Brito.   

O grupo ficará hospedado na pousada Comunidade Pella Bethânia, que tem disponibilizado o espaço para dormitório de voluntários decorrentes da enchente. “Serão três horas a mais de trabalho, o que era utilizado para o deslocamento até Lajeado”, salienta o comandante da Força-tarefa 5, major Orival Santana Junior.  

Quem desejar colaborar, poderá oferecer as marmitas da alimentação aos trabalhadores. 

Hope, a esperança

O grupo de busca é composto por um cão farejador e na Força-Tarefa 5 está a Hope. O nome da cachorra significa, em português, a esperança. Ela tem sete anos de atuação junto ao grupo, inclusive em Brumadinho, Minas Gerais, em 2019. 

A dragagem é um procedimento de escavação que ajuda a retirar os sedimentos (terra, areia, rochas, lixo) do fundo dos rios, lagos, portos, oceano e lagoas industriais por meio de diversos métodos e tecnologias. Todos os processos de dragagem são realizados através das dragas, que são as embarcações com estrutura própria para realizar o trabalho de desassoreamento.

A mobilização dos prefeitos é coordenada pelo chefe do Executivo de Sapucaia do Sul, Volmir Rodrigues. “A Granpal vai convocar uma grande reunião para aprofundarmos com outras entidades o assunto. Não entendo de dragagem nem de mineração, mas eu entendo o problema. Neste momento estamos vivendo uma grande crise humanitária”, salientou.

O prefeito de Taquari, André Brito, salientou a necessidade de buscar uma forma de diminuir o impacto do problema causado pela enchente. “Temos que construir uma saída bem rápida porque estamos vivendo um momento em que existe um clamor diante da situação que estamos enfrentando, mas não podemos deixar se prolongar demais as soluções, medidas concretas e objetivas para não cair no esquecimento”, destacou o prefeito. 

Também estiveram na reunião, Romaci Labres, aposentado na área naval no Rio Taquari. “Quando não tem mais o círculo da corrente da água, o rio emparelha e a água se espalha para fora”, afirmou Labres.

Outro funcionário da área naval, Rogério Santos, diz que nas duas últimas enchentes o rio ficou mais cheio. “Além de o rio já estar atulhado, tudo o que veio lá de cima, está dentro do nosso rio, impactando, com lodo e cisco amontoados. A chuva vai vir e vai derramar para fora, não tem mais para onde ela ir, vamos virar uma planície alagada se não dragar”. 

Na próxima semana, em Porto Alegre, os prefeitos vão se reunir junto de entidades ambientais e universidades para iniciar o debate sobre dragagem. 

Devido ao tempo úmido, o tapete da solidariedade foi montado na Igreja Matriz São José com as doações das escolas, movimentos da Igreja e comunidade. 

A ação foi organizada pelas secretarias municipais de Educação e de Cultura e Paróquia São José. Ainda pela manhã, foi realizada missa pelo celebrante frei Rinaldo Eberle. “Tanta solidariedade, tantas doações. Somos fortes e, principalmente, temos fé. A esperança nos faz caminharmos e a solidariedade nos faz sermos crist]ao de verdade’

Os itens arrecadados serão destinados às vítimas da enchente.

A celebração de Corpus Christ marca a instituição da Eucaristia pela Igreja Católica e a confecção dos tapetes coloridos tem origem em Portugal e foram trazidos para o Brasil durante a colonização.

Uma equipe de voluntários do município de Santa Rosa, no noroeste do estado, atuou na ação. O município adotou Taquari para prestar ajuda humanitária e material na recuperação da cidade, que teve cerca de três mil pessoas afetadas. Foram dois dias de trabalho intenso, realizado por 12 homens.. 

“Fizemos praticamente 70% de toda a instalação elétrica e o que ficou nós revisamos. Foram trocadas tomadas, interruptores, iluminação e separados os disjuntores. A partir de agora, quem assumir a manutenção terá os ramais todos identificados no painel central, o que vai melhorar o processo”, relata Henrique, da True Engenharia, empresa de Santa Rosa.     

“Tenho uma sensação boa, parece que

vejo o rostinho da minha menina por aqui”

Santa Rosa reuniu duas equipes para trabalhar na recuperação da EMEI Paulo Freire e EMEF Timótheo Junqueira dos Santos, na localidade de Rincão São José, também atingida pela cheia, sendo uma para cada educandário.

Na entrega das chaves na quinta-feira, os voluntários falaram sobre a ação de solidariedade. “É emocionante falar, sabendo que os nossos filhos também utilizam escolas. Tenho uma sensação boa, parece que vejo o rostinho da minha menina por aqui. Esse serviço que viemos prestar aqui, disponibilizar a mão de obra em solidariedade ao outro e, pensando que a gente pode ajudar, foi muito gratificante”, salienta Fernando, da Migor Eletrotécnica.

O prefeito André Brito destacou a importância do trabalho da equipe. “Só temos a agradecer, de coração, em nome da nossa cidade”. 

A EMEI Paulo Freire atende cerca de 90 crianças do maternal ao pré-B, que estão sem aula desde o dia 2 de maio, quando iniciaram os problemas decorrentes da cheia do Rio Taquari. 

O educandário, com sete anos de atividade, foi tomado pela água, mas contou com a colaboração de muitos voluntários para a sua recuperação. O trabalho de limpeza foi coordenado pelos membros do Ministério Internacional Rio de Glória (Mirg) e a limpeza dos aparelhos de ar-condicionado foi feita pelo Instituto Mix.

Escola é reequipada com 

doações de Santa Rosa 

Taquari recebeu no sábado, 25 de maio, duas carretas de doações, arrecadadas através de uma ação conjunta chamada Missão Taquari, que reuniu o poder público de Santa Rosa, entidades Comunidade Evangélica Atos2, Legendários, Casa da amizade do Rotary Clube, projeto Volte ao lar, Coordenado pela arquiteta Camila Preissler, e comunidade em geral, com logística fornecida pela AGCO DO BRASIL.

A ação de solidariedade das entidades santa-rosenses arrecadou itens para equipar a EMEI Paulo Freire, desde talheres até o berço, e para serem destinados às demais pessoas da comunidade. 

Os materiais destinados à EMEI Paulo Freire foram entregues na manhã de sábado na escola com a colaboração dos grupo Legendários, de Santa Rosa, que está acompanhando as ações em Taquari. “Vocês não imaginam o trabalho que foi feito. Tem roupas que elas costuraram, cortaram, trabalharam muito por vocês”, disse o vice-prefeito de Santa Rosa, Aldemir Ulrich.  

Entre os donativos, também foram enviadas cartinhas dos alunos da Escola Municipal Bráulio Oliveira. A comunidade escolar também se mobilizou para ajudar na reconstrução de Taquari.  “Acima do bem material, isso mostra o coração. É importante essa mensagem de força e de fé para continuar a vida, não vamos se entregar”, salientou o vice-prefeito.

A entrega foi realizada pelos integrantes do grupo Legendários e Igreja Evangélica Atos 2. “É um privilégio servir vocês. Nós acreditamos em um Deus que é maior do que qualquer dificuldade que possamos enfrentar e isso nos faz pessoas dignas para continuar. Na nossa vida existem situações que muitas vezes não conseguimos nem explicar porque elas estão acontecendo. Às vezes as respostas tardam a chegar, mas as soluções são encontradas de forma conjunta. Deus envia socorro!”, destacou o pastor Clederson Fábio.

A entrega ocorreu no final da manhã desta quinta-feira, 23 de maio, em um ato acompanhado pelo titular do Conselho de Representantes, Carlos Eduardo Vieira da Cunha; pelo Promotor de Justiça de Taquari, André Eduardo Schröder Prediger; pelo prefeito, André Brito; pelo vice-prefeito Ramon Kern de Jesus Silva; pela coordenadora da Defesa Civil, Cleonice Almeida, e pelo assessor jurídico, Marcos Nogueira de Freitas.

Vieira da Cunha salienta que a doação teve a colaboração de colegas de outros estados. “Para que esse número de famílias taquarienses atingidas pela cheia possa ser assistida nesta necessidade básica e de alguma forma possa ter mitigado todo esse sofrimento que sabemos as cheias estão causando para centenas de famílias”. 

O promotor André Prediger falou sobre a importância de estar solidário neste momento. “Não posso ficar alheio a tudo o que estou vendo nesta cidade e nesta região. O Ministério Público tem que ser parceiro das administrações públicas municipais; fiscalizar, sem dúvida, mas sobretudo ser um braço forte e amigo”.

O prefeito André Brito agradeceu aos promotores de Justiça e ao presidente da Associação, João Ricardo Santos Tavares, que não estava presente. Ele salientou que os fogões vão chegar nas famílias que mais precisam. “Nossa equipe da Assistência Social, através dos cadastros, vai fazer com que chegue nas famílias que realmente necessitam para que a gente possa, o mais rápido possível, voltar à normalidade neste momento tão triste” 

Além dos fogões, os botijões também serão doados. Esta é a segunda vez que a AMP/RS presta auxílio ao município. Em setembro, após a enchente, 37 famílias atingidas receberam fogões e botijões doados pela associação.

A Prefeitura de Taquari assinou, nesta semana, convênio com o Banrisul para prorrogar o pagamento de quatro parcelas dos empréstimos consignados dos funcionários municipais. A medida neste momento de crise é uma iniciativa da instituição financeira, que definiu as regras da repactuação. 

Os servidores municipais poderão pagar as parcelas correspondentes aos meses de maio, junho, julho e agosto, através de um novo empréstimo, com o primeiro pagamento na folha de setembro de 2024. O prazo de pagamento é de 36 meses.

Os interessados têm até o dia 30 de maio de 2024 para fazer a adesão, acessando, no celular, o aplicativo do Banrisul. 

“A repactuação é uma forma amenizar as obrigações financeiras neste momento de dificuldade enfrentada por muitas famílias, que foram atingidas pelas cheias ou que estão auxiliando os afetados”, salienta o secretário municipal da Fazenda, Adair de Souza.